quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Viola de 10 Cordas - Viola Caipira, uai!


A viola, esta viola morena que sempre esteve presente na vida de nosso povo, chegou ao Brasil, no período da colonização, trazida pelos jesuítas e imigrantes portugueses e, com a miscigenação de nossa música – e nossa gente –, principalmente com os negros e os índios, ela foi adquirindo suas próprias características, até se tornar a bonita, a encantatória VIOLA BRASILEIRA.

Mas onde ela surgiu? Sua origem se perde na história. Roberto Nunes Correa, em seu livro VIOLA CAIPIRA, nos informa que “No século XV, e sobretudo no século XVI, a viola já era um instrumento largamente difundido em Portugal, sendo considerada como o principal instrumento dos jograis e cantares trovadorescos.”

E esses jograis e cantadores devem ter sido tão bons que encantavam e enfeitiçavam seus ouvintes: “É extremamente curioso, uma reclamação dos procuradores da cidade Ponte de Lima, às cortes de Lisboa de 1459, enumerando os males que, por causa da viola, se faziam sentir em todo o reino. Eles alegavam que certas pessoas se serviam da viola para, tocando e cantando, mais facilmente roubarem as casas e dormirem com as suas mulheres, filhas ou criadas que, ““ como ouvem tanger a viola, vamlhes desfechar as portas “”.





No Brasil o preconceito – ou o medo de que os violeiros lhes roubassem as mulheres? – também foi grande. Por muito tempo ela foi ligada ao diabo, o cão, o tinhoso. Aliás, foi usada até como instrumento de acusação, como nos mostra esta deliciosa história narrada por Leonardo Arroyo em seu livro A CULTURA POPULAR EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS: “Nos últimos dois anos da gestão do Presidente Washington Luís começou este a manobrar a sucessão para seu amigo Júlio Prestes. Um anônimo de Itapetininga, terra da família Prestes, redigiu um volante, à máquina, distribuindo-o em São Paulo com data de l6/10/1928. Nele arrolava oito membros da família, com seus defeitos e vícios. O último da lista era Maneco Prestes, cujo maior defeito, entre outros dois, era este: tocador de viola.”

Mas voltemos à sua origem e evolução. Em Portugal temos, hoje, dois tipos de violas que se sobressaem. No primeiro as violas das terras ocidentais, ou sejam a Viola Braguesa ou “Minhota”; a Viola Amarantina – também chamada de “Viola de Dois Corações”- e a viola toeira de Coimbra. Mestre Aurélio define “toeira” como [De toar + -eira.] S. f.


1. Cada uma das duas cordas imediatas aos dois bordões da guitarra.


2. Bras. SP Açor. Corda de viola.


No segundo tipo temos a Viola do Leste, com a “bandurra” beiroa e a Viola Campaniça. É também mestre Aurélio quem define “bandurra” como “Espécie de guitarra de braço curto, cordas de tripa e bordões”.


No Brasil, a viola se firmou principalmente no Nordeste, com o nome de Viola Sertaneja, e na Região Centro Sul, - Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, com o nome de Viola Caipira.


Na região Nordeste sua afinação é a “natural”, na região Centro Sul, a “Cebolão”, a “Boiadeira”, a “Rio Abaixo” e a “Guitarra”.


Instrumento menor que o violão, tem dez cordas, agrupada aos pares, e começando de baixo para cima. Os dois primeiros pares são afinados em “uníssonos” e os outros em “oitavas”.


Existem muitas explicações para os nomes das cordas, mas certamente são todos de origem portuguesa: prima e contra prima ou primas; requinta e contra-requinta, ou segundas; turina e contra-turina; toeira e contra-toeira; canotilho e contra-canotilho.




Em diversos trechos de GRANDE SERTÃO:VEREDAS o personagem principal, Riobaldo, fala da viola e vemos que ele conhecia as famosas viola de Queluz (hoje, Conselheiro Lafaiete) município mineiro que chegou a ter l5 fábricas do instrumento. Hoje, existem numerosas fábricas e também lutierias artesanais e alguns desses artesãos se tornaram conhecidos nacionalmente como, por exemplo, Zé Côco do Riachão.


Felizmente este instrumento está voltando a ser pesquisado e, principalmente, tocado em todo o território nacional e, se a Música Popular Brasileira, por sua beleza e criatividade, conquistou o mundo foi, certamente, a Viola Caipira que ajudou a construir esta Música.




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